Reflexões para estimular e despertar a emancipação do sujeito; contribuindo para construção do conhecimento crítico e científico na temática de saúde, educação e direitos humanos

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4 de jan. de 2018

Febre amarela

Febre amarela em Minas Gerais


Nas aulas de educação artística aprendi que o amarelo é uma cor primária, mas em janeiro de 2017, o que presenciamos no município de Caratinga-MG, foi muito mais que uma pigmentação, uma situação alarmante que beirava o desespero de quem não sabia o porque e nem como aquilo estava acontecendo; pessoas eram acometidas por uma coloração que destruía os órgãos internos (fígado principalmente) fazendo sangrar pela gengiva, nariz, ouvido, poros e aterrorizava pela forma agressiva de se manifestar. Para nós profissionais de saúde, estávamos lhe dando com um vírus mortal, que já havia exterminado grande quantidade de pessoas, no Brasil até 1942, considerado como o maior surto de Febre Amarela do século. Em Minas Gerais, o último caso humano autóctone (quando a doença é contraída dentro do estado) de febre amarela silvestre, ocorreu em 2009; de acordo com o último boletim epidemiológico, emitido em 05 de janeiro de 2018. 

No período de 2016/2017 foi registrado um dos eventos mais expressivos da história da Febre Amarela no Brasil. A dispersão do vírus alcançou a costa leste brasileira, na região do bioma Mata Atlântica, que abriga uma ampla diversidade de primatas não humanos e de potenciais vetores silvestres e onde o vírus não era registrado há décadas. Na região Leste do Estado de Minas Gerais, especificamente Caratinga e região a perda de vidas humanas e silvestre foi grande, em relação a primatas não humanos incontável.

Presenciar a reemergência de uma doença após 75 anos, com acometimento de um número grande de pessoas; além de ser um fato histórico, nos colocava diretamente com o sofrimento humano, a luta pela sobrevivência, o envolvimento emocional dos familiares, a persistência incessante de diversos profissionais tendo que lhe dar diretamente com situações extremas, articulando e planejando todos os tipos de assistência necessários. Experimentamos a construção de trabalhos ininterruptos que atravessavam a madrugada, convivendo com a pressão da mídia e mobilização social por informações, além do estresse, fadiga, conflitos de relacionamento interpessoal, distância de familiares, amigos e exposição a riscos imensuráveis.

Para a Saúde Pública uma mudança de paradigmas, novas reformulações, reelaboração de protocolos, alerta para a circulação de vírus por regiões até então sem registros recentes. Diversos eram os questionamentos, poderia ser um vírus mutante? Desastres ambientais de grande proporção em Minas Gerais contribuíram para esta reemergência?

Grandes e irreparáveis foram os danos, vidas humanas e silvestres foram perdidas, tendo como consequência o desequilíbrio para o ecossistema, além de danos econômicos, emocionais e da visibilidade internacional. Estima-se que milhares de macacos tenham morrido inclusive espécies podem ter se extinguido, antes mesmo de serem conhecidas e estudadas.
Epizootias em Primatas Não Humanos (macacos), confirmadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, detectadas recentemente nas mesmas áreas afetadas no surto recente de 2016/2017, indicam a manutenção da transmissão local e do risco as populações humanas.

A maneira de prevenir, este mal amarelo, esteve sempre à disposição na unidade de saúde mais próxima, embora nem sempre dava-se importância para algo que não representava uma ameaça. O  que presenciamos nos dias seguintes a confirmação de casos de febre amarela foi aterrorizante: filas intermináveis, população dormindo em postos de saúde, todos queriam a vacina; alguns desavisados acreditavam que uma dose não bastava e faziam uma verdadeira via sacra pelos postos para tomarem outra, pensando que assim poderiam garantir “uma proteção maior”, não sabendo que o risco de desenvolver a doença pelo  excesso é tão grande quanto o risco de adquirir se não tomar

Fonte: Acervo autor
Depois de tudo será que hoje todo mundo guardou o cartão com a dose registrada que tomou? Na hora de comprovar que está vacinado você tem o cartão? Se não tem providencie, pois você pode precisar dele quando menos esperar e pode ter certeza você vai precisar!
Afinal, o amarelo que deve prevalecer é o impregnado pelos carotenoides, o que embeleza a natureza pelas flores e frutos ou o que todos nós conhecemos, seja no losango da nossa bandeira ou a camisa nº1 da Seleção Brasileira de Futebol.

Fonte: Acervo autor
 Veja o vídeo dos bastidores da investigação de epizootias de primatas não humanos na emergência da febre amarela em 2017.

7 de fev. de 2017

Febre Amarela

Sentinelas para a Febre Amarela Silvestre

Veja a entrevista abaixo, na íntegra, realizada em coletiva de imprensa no município de Caratinga:





Saúde investiga as mortes de macacos com suspeita de febre amarela silvestre na região e alerta sobre a importância de preservação dos primatas. Durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (26/01), o especialista em Políticas e Gestão de Saúde, Fabiano Martins, informou que os municípios da área de abrangência da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Coronel Fabriciano, já apresentam 59 registros de epizootias, ou seja, macacos mortos.
A maioria das carcaças de macacos, segundo ele, foi encontrada em Caratinga (cerca de 50%). Fabiano disse que os registros são feitos de acordo com as denúncias da população recebidas pelos serviços de saúde. Ele afirmou que na área da Regional de Saúde de Fabriciano já foram encontrados não só barbados mortos, como também macacos de outras espécies com os nomes científicos Callithrix e Callicebus personatus.
Devido ao aumento dos casos suspeitos de febre amarela em Minas Gerais, os macacos acabaram se transformando em vilões. Os macacos são tão vítimas quanto os humanos. O macaco, principal hospedeiro e vítima da febre amarela, é sentinela, indicando que o vírus está circulando em determinada região. Fabiano alerta para que os macacos sejam preservados, pois eles não transmitem a febre amarela. “É importante ressaltar também que quem violenta o primata está cometendo um crime ambiental e pode sofrer penalidades”.
A febre amarela silvestre é transmitida através da picada de mosquitos Haemagogus e Sabethes, que vivem em matas e vegetações à beira dos rios. Quando o mosquito pica um macaco doente, torna-se capaz de transmitir o vírus a outros macacos e ao homem. “A fêmea do mosquito para se reproduzir precisa do sangue. Ela [fêmea] vive nas copas das árvores, assim como os primatas, que são arborícolas. Então, esse sangue é que ela vai buscar. Se esse animal começa a se rastejar porque já está doente, ele ficará mais próximo das pessoas e elas terão a impressão de que o macaco está manso. O comportamento dele está diferenciado devido à doença. Ele não trará nenhum risco à pessoa de transmitir a febre amarela, mas é importante que as pessoas tenham precauções, porque os primatas podem transmitir outras doenças”.

INVESTIGAÇÃO

A mortandade dos macacos está sendo investigada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Caratinga. A equipe de vigilância em epizootias composta pelo Fabiano, pelo técnico em Gestão de Saúde, Manoel Carlos, e pela médica veterinária do município, Clara Romanzotti, está realizando um trabalho de georreferenciamento, ou seja, um mapeamento das áreas geográficas onde foram encontrados macacos mortos.
Os materiais biológicos dos primatas que vieram a óbito em até 24 horas também estão sendo coletados para investigação e confirmação da suspeita de febre amarela silvestre. Fabiano explicou que os animais são submetidos a uma necropsia e são coletados fragmentos do fígado, baço, rins, pulmão, coração, cérebro. As amostras coletadas são enviadas para a FUNED (Fundação Ezequiel Dias), em Belo Horizonte, para investigação e confirmação da causa das mortes dos macacos.
Fabiano reforçou que a carcaça do animal não oferece viabilidade técnica para a realização do exame de necropsia. O especialista do Estado recomenda que as pessoas e os órgãos parceiros, como a Polícia Ambiental, comuniquem o encontro de macacos mortos dentro do prazo de 24 horas, para que os técnicos tenham condições de fazer a coleta das vísceras dos animais para análises laboratoriais.
“O objetivo desse trabalho é fechar o diagnóstico da circulação do vírus da febre amarela. Então, nossa finalidade é identificar esse vírus nos animais. Também temos outra frente de trabalho que é a entomológica, que vai verificar a presença desse vírus nos artrópodes, nesses insetos, que são os transmissores da doença”. A orientação para a população é não tocar no animal morto e informar as autoridades de saúde de seu município.

Disponível em TV Super Canal: Saúde investiga mortes de macacos por suspeita de febre amarela e alerta para preservação dos primatas