Reflexões para estimular e despertar a emancipação do sujeito; contribuindo para construção do conhecimento crítico e científico na temática de saúde, educação e direitos humanos

28 de jun. de 2018

Saúde Pública

Saúde Pública e Biodiversidade ameaçadas 

O uso indiscriminado de veneno para produção de alimentos é prejudicial a saúde humana e ambiental, embora a Comissão Especial da Câmara que analisou o Projeto de Lei dos Agrotóxicos pense o contrário. A ideia sustentada pela bancada ruralista é abrir espaço para “pesticidas mais modernos”; a frente parlamentar pró-veneno defende o acesso a "novas tecnologias e mais agilidade no registro de novos produtos" com a aprovação do texto e "considera que o País precisa estar à frente em tecnologia e em modernização", tendo em vista que o carro-chefe da economia do Brasil é a agricultura.

O pacote de venenos, revoga a atual Lei de Agrotóxicos (7.802/1989) e libera o uso indiscriminado dessas substâncias.
Imagino o uso indiscriminado por grandes e pequenos produtores, aqueles que concentram grande poder aquisitivo, abusam do uso e ao utilizarem indiscriminadamente, dão banho de inseticida até em alunos nas escolas, já os pequenos que sequer conhecem a importância da utilização de equipamentos de proteção individual para aplicação do produto, expoem-se e também aos seus entes. Não há dúvidas que esta proposta acarretará mais veneno na comida e prejuízos ao meio ambiente. 

Quando a política não se orienta pelo parecer técnico e científico de instituições de saúde e meio ambiente e volta-se apenas para interesses comerciais da indústria de pesticidas e do agronegócio, certamente haverá impactos jamais visualizados. Neste jogo de forças quem perde é a socieade brasileira e todo o ecossistema, para quem deseja a qualquer custo e preço o lucro, a vantagem capital.

Sabe-se que crianças e adolescentes estão entre as principais vítimas dos agrotóxicos no Brasil; embora a subnotificação dos casos possa  disfarçar a realidade, possivelmente um tanto quanto pior.


O país ao aprovar o “pacote de veneno” fere de morte a brasileiros e brasileiras em condições de vulnerabilidade e descumpre há 7 convenções internacionais assinadas pelas relatorias especiais de direito a um ambiente seguro, limpo, saudável e sustentável; direito à alimentação; substâncias perigosas; direito à saúde física e mental e direito à água segura e saneamento; da Organização das Nações Unidas - ONU.

Os dados abaixo, obtidos do Sistema Informação de Agravos de Notificação – SINAN, do Ministério da Saúde, no período de 2010 a 2017, apontam aumento ano a ano das notificações de intoxicações humanas causadas por inseticidas.Vale ressaltar que estes eventos são aqueles considerados agudos, que procuraram os serviços de saúde para atendimento.
Fonte:  Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
*Dados de 2013 a 2017 atualizados em 15/01/2018, sujeitos à revisão

Quem gostaria de comer mais veneno em seu pão de cada dia? Caso a resposta seja negativa tem alguém que decidiu isto por você.


Além do potencial cancerígeno, desregulação dos hormônios, ativação de mutações e danos ao aparelho reprodutor, segundo estudos, os agrotóxicos também estão associados a casos de suicídios e depressão, como não existe uma dose segura a utilização destes venenos são altamente prejudiciais a saúde humana e a biodiversidade.

Estudos realizados na Europa, afirmam que a agricultura intensiva e o uso de agrotóxicos estão extinguindo a população de aves em diversos países

Uma pesquisa realizada na França revelou que com o desaparecimento dos insetos, alimentos dos pássaros, dezenas de espécies de aves tiveram uma redução brutal no número de indivíduos. Algumas apresentando uma diminuição de até 1/3 nos últimos 15 anos.
Os pesquisadores consideram a situação catastrófica. Alertam que se nada for feito, os campos do interior francês se tornarão “desertos”.
Diversos estudos anteriores têm denunciado os efeitos nocivos dos pesticidas sobre as abelhas. E não é só. Pesquisadores alertam que os agrotóxicos utilizados na agricultura também são prejudiciais para outros polinizadores, como as borboletas.

De acordo com o painel de biodiversidade das Nações Unidas, divulgado em 2016, na Europa 9% das espécies de abelhas e borboletas estão ameaçadas de extinção. Somente a população de abelhas diminui 37%. Por falta de dados, a análise não pode ser feita em outros continentes.
Em países de primeiro mundo o movimento e pressão é para que haja um corte pela metade do uso de pesticidas, já no maior país sul americano, o movimento é contrário e retrógrado. 
Recomendações realizadas pelas comunidades científicas e acadêmicas nacionais e internacionais, além do clamor da opinião pública foram desconsiderados. Enquanto comemora-se o 2x0 sobre a Sérvia no futebol, na política o chute é uma bola fora da curva.

Referências:

  1. https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/projeto-que-flexibiliza-uso-de-agrotoxicos-e-aprovado-em-comissao/
  2. http://contraosagrotoxicos.org/vitimas-dos-agrotoxicos-sao-25-de-criancas-e-adolescentes-portal-vermelho/
  3. http://contraosagrotoxicos.org/onu-se-diz-preocupada-com-pacote-do-veneno/
  4. https://www.chegadeagrotoxicos.org.br/
  5. http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/agropecuaria/559559-comissao-especial-aprova-parecer-que-muda-legislacao-brasileira-sobre-agrotoxicos.html
  6. https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/anvisa-lista-riscos-de-nove-agrotoxicos-proibidos-para-alertar-sobre-impacto-de-possivel-mudanca-em-lei.ghtml
  7. http://conexaoplaneta.com.br/blog/pesticidas-provocam-declinio-assustador-de-aves-na-europa/
  8. https://maringapost.com.br/cidade/2018/03/12/sabia-que-as-abelhas-estao-diminuindo-e-isso-afeta-nossas-vidas-projeto-da-uem-quer-conhecer-melhor-o-inseto-e-informar-melhor-a-populacao/

4 de jan. de 2018

Febre amarela

Febre amarela em Minas Gerais


Nas aulas de educação artística aprendi que o amarelo é uma cor primária, mas em janeiro de 2017, o que presenciamos no município de Caratinga-MG, foi muito mais que uma pigmentação, uma situação alarmante que beirava o desespero de quem não sabia o porque e nem como aquilo estava acontecendo; pessoas eram acometidas por uma coloração que destruía os órgãos internos (fígado principalmente) fazendo sangrar pela gengiva, nariz, ouvido, poros e aterrorizava pela forma agressiva de se manifestar. Para nós profissionais de saúde, estávamos lhe dando com um vírus mortal, que já havia exterminado grande quantidade de pessoas, no Brasil até 1942, considerado como o maior surto de Febre Amarela do século. Em Minas Gerais, o último caso humano autóctone (quando a doença é contraída dentro do estado) de febre amarela silvestre, ocorreu em 2009; de acordo com o último boletim epidemiológico, emitido em 05 de janeiro de 2018. 

No período de 2016/2017 foi registrado um dos eventos mais expressivos da história da Febre Amarela no Brasil. A dispersão do vírus alcançou a costa leste brasileira, na região do bioma Mata Atlântica, que abriga uma ampla diversidade de primatas não humanos e de potenciais vetores silvestres e onde o vírus não era registrado há décadas. Na região Leste do Estado de Minas Gerais, especificamente Caratinga e região a perda de vidas humanas e silvestre foi grande, em relação a primatas não humanos incontável.

Presenciar a reemergência de uma doença após 75 anos, com acometimento de um número grande de pessoas; além de ser um fato histórico, nos colocava diretamente com o sofrimento humano, a luta pela sobrevivência, o envolvimento emocional dos familiares, a persistência incessante de diversos profissionais tendo que lhe dar diretamente com situações extremas, articulando e planejando todos os tipos de assistência necessários. Experimentamos a construção de trabalhos ininterruptos que atravessavam a madrugada, convivendo com a pressão da mídia e mobilização social por informações, além do estresse, fadiga, conflitos de relacionamento interpessoal, distância de familiares, amigos e exposição a riscos imensuráveis.

Para a Saúde Pública uma mudança de paradigmas, novas reformulações, reelaboração de protocolos, alerta para a circulação de vírus por regiões até então sem registros recentes. Diversos eram os questionamentos, poderia ser um vírus mutante? Desastres ambientais de grande proporção em Minas Gerais contribuíram para esta reemergência?

Grandes e irreparáveis foram os danos, vidas humanas e silvestres foram perdidas, tendo como consequência o desequilíbrio para o ecossistema, além de danos econômicos, emocionais e da visibilidade internacional. Estima-se que milhares de macacos tenham morrido inclusive espécies podem ter se extinguido, antes mesmo de serem conhecidas e estudadas.
Epizootias em Primatas Não Humanos (macacos), confirmadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, detectadas recentemente nas mesmas áreas afetadas no surto recente de 2016/2017, indicam a manutenção da transmissão local e do risco as populações humanas.

A maneira de prevenir, este mal amarelo, esteve sempre à disposição na unidade de saúde mais próxima, embora nem sempre dava-se importância para algo que não representava uma ameaça. O  que presenciamos nos dias seguintes a confirmação de casos de febre amarela foi aterrorizante: filas intermináveis, população dormindo em postos de saúde, todos queriam a vacina; alguns desavisados acreditavam que uma dose não bastava e faziam uma verdadeira via sacra pelos postos para tomarem outra, pensando que assim poderiam garantir “uma proteção maior”, não sabendo que o risco de desenvolver a doença pelo  excesso é tão grande quanto o risco de adquirir se não tomar

Fonte: Acervo autor
Depois de tudo será que hoje todo mundo guardou o cartão com a dose registrada que tomou? Na hora de comprovar que está vacinado você tem o cartão? Se não tem providencie, pois você pode precisar dele quando menos esperar e pode ter certeza você vai precisar!
Afinal, o amarelo que deve prevalecer é o impregnado pelos carotenoides, o que embeleza a natureza pelas flores e frutos ou o que todos nós conhecemos, seja no losango da nossa bandeira ou a camisa nº1 da Seleção Brasileira de Futebol.

Fonte: Acervo autor
 Veja o vídeo dos bastidores da investigação de epizootias de primatas não humanos na emergência da febre amarela em 2017.