Embora
não seja um pensador legitimado do campo da ética, gostaria de expor apartir de
um texto, já publicado neste blog anteriormente, da autora Márcia Tiburi, sobre
a ética no mundo contemporâneo. Tomo a liberdade de me basear no texto da autora
e reescrevê-lo com as minhas inquietações, portanto não se trata de uma cópia,
mas baseando-me em sua dissertação ouso expressar algo que tem me incomodado
muito, da mesma forma, se não te incomoda pode ser que apartir destas reflexões
te levem a compreender e ampliar sua visão sobre algo que enraigado no tecido
social, nos permite refletir sobre as relações humanas.
A
palavra ética aparece em muitos contextos de nossas vidas. Fala-se sobre
ética em tom de clamor por salvação. A esperança externalizada por alguns,
reafirma, exige ou reclama sobre a falta de ética, mas nem sempre é possível o
entendimento sobre o que se quer dizer, ao se gritar e reclamar da falta de
ética presente no mundo contemporâneo.
Porque
se exige a ética do outro? Porque se deseja tanto a ética? Baseado nestas
exigências ou neste desejo o que se avançou?
A sociedade está vivendo uma dualidade entre a
aspiração, o desejo pela ética e sua aplicabilidade nas relações humanas,
profissionais, religiosas, políticas etc. Percebe-se que há um abismo entre o desejo e o
ato de ser ou tornar-se ético. Desenvolver reflexões, pensamento crítico, postura
desalienante, pró ativa, que busque não a verdade da fé ou do conhecimento do
senso comum.
Desvendar
esta dinâmica do comportamento individual e suas interfaces requer o entendimento
sobre o que é agir com e sem ética e como mergulhar-se em ações éticas, não na
ceara global, da política internacional, nacional, mas aquela ética que permeia o convívio
social, seja de grupos de trabalho, condomínio, igreja, escola e diversos outros.
Observa-se
nas redes sociais, diversas manifestações hora de repúdio, hora de apoio a este
ou aquele ataque terrorista, a este ou aquele movimento, conforme agenda e circunstância,
mas a ética que invoco nestas linhas está além da mera indignação moral motivada
por emoções instantâneas, que tantos acham magnífico compartilhar, publicar, twittar.
O ato de expressar seu pensamento, sua emoção, vai além da publicação em si, demonstra
o quão sensível ou insensível é aquele que compartilha um post, publica ou twitta.
Mas
uma indignação de rede social, não basta! Emoções fortuitas em relação à
política, a religião, a desastres, à miséria ou à violência passam, até o
próximo fenômeno chegar e efervescer nova comoção social e então tudo continua
como dantes.
O
próximo passo deve ser dado, persistir na indignação e comoção e resignificá-la,
de modo que emoções indignadas se transformem em sensibilidade elaborada, que
sustente ações boas e justas (objetivo de qualquer ética).
O
que é preciso para que a sociedade se aproprie deste conceito ou compreenda o sentido
comum da reivindicação ética, ainda não é conhecido, mas percebe-se que, falta
a esta sociedade capitalista o diálogo, a capacidade de expor e ouvir o que pode
ser ética.
Desejar
a ética, mas sem diálogo é impossível, como resultado tem-se o que hoje se
considera como o triunfo da ignorância e intolerância, legitimado apartir do politicamente
correto, consagrado nas redes pelas fakenews.
O
culto propagado ao não intelectualismo, tem levado o pensamento coletivo a
cultuar a irracionalidade, a desvalorização da ciência, mas me pergunto:
—
Quem está preocupado no cenário atual a entender do que se trata? Que fenômeno
mais desumano é este que domina o pensamento coletivo? Alguém está preocupado em
discutir ética para além dos códigos de ética profissional?
A
sociedade brasileira, com toda a sua construção coletiva, tem a ética como princípio
além de um mero parágrafo garantido na constituição?
Por
não compreender o que fundamenta a ética, seu significado estrutural para cada
sujeito e para a sociedade como um todo, perde-se no horizonte a possibilidade
de realização.
A
ética não é uma escolha de vida, a todo momento deixa-se a ética bailar pela
vida, pois se quer se sabe que ela está a bater e até mesmo dançar em nossa porta
existencial; mas se ainda assim você se pergunta ou suscita no fundo de sua
existência o que fazer para ser ético, está cometendo também um erro, pois ser
ético não é uma mera condição ou um momento, torna-se um exercício, um modo de
comportamento, de decisão sobre o convívio e o modo de compartilhar valores, a
liberdade e a própria existência.
A
ética pauta e dá sentido à convivência e supera o já conhecido e importante respeito
ao limite próprio e alheio. Como a ética diz respeito à relação entre um “eu” e
um “tu”, ela envolve pensar o outro, o seu lugar, o seu lugar de fala, sua
vida, sua potencialidade, seus direitos, como eu o vejo e como posso
defendê-lo.
Portanto
só é ético aquele que enfrenta o limite da própria ação, da racionalidade que a
sustenta e da luta pela construção de uma sensibilidade que possa dar sentido à
“felicidade política”, ou seja, uma vida justa e boa no universo público.
A
felicidade na vida privada – que hoje também se tornou debate em torno do qual
cresce a ignorância, depende de uma compreensão ética de mundo.
O
que o mundo, a América Latina e mais especificamente o Brasil está vivendo, requer um resgate de ressignificação ética como um
trabalho de lucidez, quanto ao que está se fazendo com o presente, sobretudo, com
o que nele está sendo plantado, pois novos rumos estão sendo definidos para o futuro.
A
renovação da capacidade de diálogo e retomada de um projeto de sociedade no
qual o bem de todos esteja realmente em vista deveria ser a agenda do dia.